quinta-feira, 28 de março de 2013

Semântica




Tantos nomes gritados na rua,
Não correspondem ao que sou.
São tantos os nomes e total,
Para quem diz, sua exatidão.

Nomeiam e definem o sujeito.
Abarcam conceitos, coração,
Alma, sentimento, sentido
(ou não).

Belos ou feios, não importam.
Cada um em seu texto
Carrega um pouco
De irônica verdade.

Por não ser verdade.
Por ser questionável.
Por ser humano

quinta-feira, 21 de março de 2013

A impaciência coletiva




A manhã aparece no céu enquanto corro a ladeira.
“Vou perder o ônibus, não posso me atrasar”.

Dentro do coletivo
Observo os colegas de curta viagem.
Um animal indo ao abate teria mais alegria no olhar.

O ônibus esta lotado de muitos sentimentos entorpecidos,
Que pensam nunca chegar o momento de despertar.
Nessa fila de trânsito interminável, passageiros
Melancólicos e morbidamente pacíficos.

Enquanto isso, na rua, um bêbado com um gorro
Me lembra, às sete da manhã, que ai vem o natal.

Seria engraçado, não fosse triste a condição
Das quais não sei a pior.

Se a dele com seu sorriso,
Ou eu e a minha insatisfação.

As duas podem matar,
A minha só demora mais um pouco
E ele ainda sorri com o copo na mão.


quinta-feira, 14 de março de 2013

Queimando




Nova manhã desapontando.
O sol quente mostra-se no horizonte.

Olhos para o céu.
Espero que a luz cegue.
Braços ao alto.
Espero que sejam queimados.

Um corpo a disposição dos deuses
Para crepitar e ser o farol
De mais um dia pleno.

Para orientar a quem?

Espero ali queimarem
Todos os pecados
Que me corrompem.

Quero cremar vivo o corpo insone
E insolente, que me trai
Pelo meu livre arbítrio.

A luz cansa,
Fecho os olhos.
A mente se cala

Prefácio


Madrugada chuvosa em São Paulo, mas poderia ser qualquer lugar nesse mundo. É outono e faz frio. Sei do poder devastador dessa conjunção, pois abri minha janela e vi como é triste.

Olho no horizonte e penso nos fragmentos espalhados por aí. Os fragmentos formados pelo ímpeto de nossa sociedade. Eles tentam se abrigar, sendo lavados por estas águas que caem, mas também há, e não posso esquecer, os que estão abrigados, num cômodo conforto. Ainda outros fornecem tickets, notas e cupons fiscais, bebidas, porções, atenção, seus corpos.

São todos fragmentos, alguns conscientes de serem apenas pedaços, células com uma única função. Outros, perdidos, sem saber direito o seu pra que e para onde.
Outros tantos, ainda, sentem-se inteiros, como eu e você, com nossas casas, quartos, carros, computadores, celulares. Posses que nos dão a impressão de sermos órgãos, coração e cérebro talvez, de um grande corpo ou mesmo este.

Porém, nada disso, somos realmente apenas umas células, embebidas em pretensões de ser mais.

Olho no horizonte e lembro dos fragmentos.

A paz de espírito não é uma opção e a intenção destas linhas é que também se lembre e os perceba quando os verem. O mendigo, o menino no farol e a miséria que o precede, o cobrador, o gari, o catador de lixo, o lixeiro, a pessoa do pedágio, o caminhoneiro, a dona de casa, o idoso, o garçom, o médico, o professor, o que limpa, o que suja, os estressados e oprimidos no trânsito, você. Tanto faz ser homem ou mulher, os gêneros ou as religiões ou as condições, o status, o capital.

Na minha pretensão eu quero que você também sofra.


Nota sobre a seleção de poemas


A seleção obedece a uma ideia central para sua organização: trata-se de expressar a forma fragmentada com que se formam as relações na atual sociedade, não se restringindo aos grandes centros, porém mais expressiva nestes. Formas de fragmentação que vão do íntimo ao coletivo.

Fragmentos da imagem




Sumário





Lançamento do livro virtual "Fragmentos da imagem"


Depois de um tempo pensando, resolvi publicar por aqui (onde me é possível no momento) um pequeno projeto editorial de poemas que elaborei.

Denominei-o de "Fragmentos da imagem".

Farei publicações semanais dos poemas que escolhi para compor esse projeto. Por hora, postarei aqui o sumário, que atualizarei com o link dos poemas após cada postagem.

Aguardo avaliações, críticas, sugestões, convites...

terça-feira, 12 de março de 2013

Trans Paulo - Crônica

São Paulo não merece mais esse "são" em seu nome (há muito tempo): perdeu qualquer sanidade ou santidade pretensa.

Tensas se tornaram as relações entre habitantes ou passantes, aqueles que estão no olho do furacão ou que vivem nas bordas.

Trans Paulo, esse deveria ser o nome. A cidade do transito (não mais da garoa). Transito, que é senhor da vida e da morte, do tempo, das relações humanas.

Transformador elementar: a chuva que já significou vida, hoje trás angústia, letargia, morte, pois significa a visita deste senhor implacável, que cresce se alimentando mais e mais dos corpos, dos sentimentos e membros que leva.

Transita bons sentimentos em seus opostos, vantagens em nulidades. "Aqui tenho tudo" "Mas como faz pra chegar?" "Com esse transito, não chego."

E no fim o que realmente passa é a vida. Ela se vai, ela se perde, como todos que também perdem um outro pouco: uns a cabeça, outros o braço e muitos o direito a um abraço.

domingo, 3 de março de 2013

Jardim de pedra - Poema


Sempre pensei em elaborar bem meus escritos, mas uma amiga ai me disse que escrevo bem e que só não deveria me preocupar tanto com metro, forma, simetria... Enfim, tinha que ser livre e feliz.

Então, desencanei. 

Desencanei depois de um longo processo de descompromisso e desencantei de querer impressionar (afinal quem não quer reconhecimento?) 

No final o que nos sobra de uma atitude assim é aquele efeito reverso e contraditório: quanto mais buscamos o reconhecimento e a afirmação da identidade lá fora, menos nos reconhecemos aqui dentro.

Obrigado Mari Ana Marcondes, esse é pra você.

Jardim de pedra

Além das nuvens, um firmamento.
Tenho consciência
das estrelas que brilham.

Os homens plantam prédios.
Carros, carruagens
de uma novelha era.

Tão próximo o que é distante
e o que é próximo, não se sabe,
não se enxerga (a)o certo.

O homem faz (um)a natureza
artificial como seus desejos.
Deus déspota, expulso do paraíso.

Como seus desejos, com água
E farinha.
Aliás, comi um dia.

Devorei uma noite tranquila,
num passar compassado
na avenida.

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