quinta-feira, 26 de abril de 2012

Crônica - USP: chuva, egoísmo, inundação e desabafo

Universidade de São Paulo. FFLCH. Prédio da Faculdade das Letras.

Dia chuvoso. Mais uma aula maravilhosa do Profº. Antonio Pasta, de Literatura Brasileira III.

Enquanto a aula se desenvolve, um grupo de pessoas está conversando, insistentemente, durante o desenvolvimento do professor. Mais uma vez como tantas outras, ele chama a atenção. São as únicas dentre uma grande maioria de alunos atentos. 

Minha amiga ao lado me informa que são colegas suas na habilitação de alemão. Ela está, com razão, revoltada: esse é o mesmo procedimento que elas têm durante as outras aulas. 

A grande ironia do destino: fazem parte do mesmo grupo de pessoas que durante a greve do ano passado reclamavam que queriam aula. Agora, incomodam quem quer aprender.

Para que, então, querem ter essas aulas? Ainda mais esta, que é uma das mais concorridas, com uma das salas mais cheias, com alunos de fora (vi um amigo da sociais hoje lá e muitos calouros pelo andar do semestre), de outros horários, de outros anos e muitos não-inscritos, impossibilitados pela sistemática da faculdade de se inscreverem na referida turma. Aulas que contam com um alto quorum mesmo em dias de chuva (como hoje), mesmo as quintas e sextas a noite, nos dois horários (19h30-21h00/21h10-22/40).

Para que estas pessoas querem essa aula? Poderiam dar lugar aos reais interessados em aprender. 

Se estivessem prestando atenção, teriam aprendido uma palavra que cairia formidavelmente como um chapéu (da vergonha) sobre suas cabeças: FILISTEU.

Fi.lis.teu (fem. -teia): 3. Pej. Diz-se de pessoa de espírito vulgar, de interesses meramente materiais. (Dicionário on-line Caldas Aulete).

Essa é uma palavra que dentro do conceito elaborado no romantismo qualifica o sujeito que "adere aos valores dominantes não por serem valores, mas por serem dominantes. Ou seja, o sujeito que luta para manter seu status individual, independente das injustiças que possam haver em sua sociedade. 

"O que importa é o meu e foda-se o resto", esse é o lema de um filisteu (ou -teia).

Depois da aula, à porta da faculdade soube de outro amigo que sua sala teve desabamento do teto e inundação em plena aula. Isso num prédio que foi "reformado" durante as férias e foi entregue na semana de começo das aulas (em março).


Vídeo de Kyo Kobayashi

Como fica a segurança dos alunos? Como fica o andamento das aulas? Que reforma foi essa? Foi só uma maquiagem das paredes velhas e a cobertura dos buracos no teto com placas de gesso? Sem citar a entrada que alaga em qualquer chuva que de e impossibilita o "direito de ir e vir" na hora da volta para casa.

Enquanto isso, alunos e professores que se pronunciam sobre (e sob) o sucateamento da faculdade e do prédio são calados com medidas burocráticas e administrativas, numa estrutura que visa o cada vez mais presente silêncio.

Chamar os alunos de desordeiros e vagabundos quando protestam por melhorias é fácil. Difícil é estudar aqui, meus caros.

Aceitem esse caminho, cordeiros. A porteira do abatedouro está aberta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que achou? Coloque aqui o que pensa. É discutindo que vamos construir da melhor maneira a ideia.

Veja aqui sua licensa Creative Commons para este blog

Licença Creative Commons Este site e seu conteúdo encontram-se sob Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Brasil. Para permissões adicionais ao âmbito desta licença entre em contato com o autor.

DMCA.com Protection