sexta-feira, 24 de maio de 2013

O cidadão no papel




A cidade pesa, como um peso,
Sobre o cidadão, como se de papel,
Estaca no chão, preso,
Não voa com o vento morto.

Cidadão, folha branca, não em branco,
Absorve tonalidades cinzentas
Que recobrem cantos, recantos da cidade.
Funde-se a muros, prédios. Paisagem.

Cidadão de papel no seu papel figurante.
Não em branco, mas como se fosse,
Rascunho a lápis de ideias alheias,
Cedendo nas mudanças de nuances.

Borrachas passam e borram.
Outros lápis e um texto novo.
Logo tudo se altera e a folha fraca,
Em suas fibras, se rompe.

Sem rompantes, gesto simples,
Descarta-se a folha gasta.
As mãos logo pegam outra.
Há tantas. Novas, dispostas, fortes.

Folha descartada, gasta, amassada,
Agora voa, pouco. Mais rola pela via.
Torna-se algo. Camaleão. Rua veste sua pele.
Perde-se na esquina. Mágica! Sumiu da vista.

O papel-cidadão não mais consta do inventário.
Chuvas-lágrima, ranger de dentes, despachos.
Passo em falso, passe, horários.
Na usura do escritor fez-se em pedaços.

E o vento levou, enfim, o pó.
Do pó ao pó. Retorno,
Movimento, constância.

A cidade pesa, como um peso.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Luz




Luzes surgem,
Desaparecem,
Despertam,
Distraem.

Fachos sem direção
Iluminam um canto
Na obscura mente
Dispersa.

Trôpega,
E bêbada,
Corre!
Louca...

A luz!
Que luz?
O carro!
O chão...

O corpo.
Um não.
Alma negada,
Entranhas, jornada.

Olhos
Sem mão
Que acuda.
Mórbida diversão.

Luz...
O túnel
A luz!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Fúria das horas




O Turbilhão gira,
   Ele é cíclico.
   Uma esperança contínua
   É a de que esse turbilhão
   Perca seu
   Caos enérgico
   No arrasto
   Do medo,
   No atrito
   Do vento,
   No morrer
   Do tempo.
   Porém, a bateria ou a corda
   Ressuscita a sua volta,
   Ritmando
   Angústias
   Monótonas.
Clic-clac
   Tic-tac
   Tic-tac
   Tic-tac

     Pow!


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Matéria inexistente




Tantas horas, dias.
Tanta luta, batalha.
Até não resistir
E entregar a bandeira.

Que o corpo se torne leve
Para o vento levar
Fora de tudo
Que aqui não há.

Leve para lá
Fora destes deuses.
Longe, longe do planeta.
Fora de ambições e neuras.

Que não me faça
Parte de nada,
Deixando-me rumar

Veja aqui sua licensa Creative Commons para este blog

Licença Creative Commons Este site e seu conteúdo encontram-se sob Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Brasil. Para permissões adicionais ao âmbito desta licença entre em contato com o autor.

DMCA.com Protection