A cidade pesa, como um peso,
Sobre o cidadão, como se de papel,
Estaca no chão, preso,
Não voa com o vento morto.
Cidadão, folha branca, não em branco,
Absorve tonalidades cinzentas
Que recobrem cantos, recantos da cidade.
Funde-se a muros, prédios. Paisagem.
Cidadão de papel no seu papel figurante.
Não em branco, mas como se fosse,
Rascunho a lápis de ideias alheias,
Cedendo nas mudanças de nuances.
Borrachas passam e borram.
Outros lápis e um texto novo.
Logo tudo se altera e a folha fraca,
Em suas fibras, se rompe.
Sem rompantes, gesto simples,
Descarta-se a folha gasta.
As mãos logo pegam outra.
Há tantas. Novas, dispostas, fortes.
Folha descartada, gasta, amassada,
Agora voa, pouco. Mais rola pela via.
Torna-se algo. Camaleão. Rua veste sua pele.
Perde-se na esquina. Mágica! Sumiu da vista.
O papel-cidadão não mais consta do inventário.
Chuvas-lágrima, ranger de dentes, despachos.
Passo em falso, passe, horários.
Na usura do escritor fez-se em pedaços.
E o vento levou, enfim, o pó.
Do pó ao pó. Retorno,
Movimento, constância.
A cidade pesa, como um peso.