domingo, 25 de agosto de 2013

Luxúria




Os olhos se cruzaram,
As bocas se abriram.
Começaram a troca
De desencontros.

Rolou uma química.
O final, Inevitável.
Noite de historia única.

Curiosidade cede
Lugar a descoberta,
Quando as mãos
Entram em cena.

Espreitam carícias,
Despindo centímetros.
A pele ferve macia.

As bocas, que tanto falaram,
Se ocupam em desabrochar
Cada flor desse campo,
Tomado de desejos sem chão.

Logo o suave passeio
Toma um acelerado compasso,
Como se logo mais fosse o fim.



A explosão!
O salto!
O vôo!

Queda.

Vazio.

Solidão.

Sensação de sentir-se indefeso,
A ponto de uma pena no peito
Pressionar o coração.

Tudo se foi.
Esvaiu-se.
Esfriou.

Um abraço.

Bem que poderia ser mais.

Inocência




Os dias passaram,
Os anos chegaram,
A vida correu

E a inocência ficou para trás.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Só acompanhado




A lâmina fria
Corta a carne,
Que se esvai
Em lágrimas.

O estômago se devora,
Sem que se sinta.
Alimento de si.
Seu próprio parasita.

Peso e torpor.
Um abismo imensurável.
A embriaguez da morte.
Um único fim irremediável.

As velhas árvores caíram
As sementes não brotam.

Sobrou uma, solitária,
Que balança ao vento
Cáustico e arenoso

No deserto de pedra.

Sumário

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O cidadão no papel




A cidade pesa, como um peso,
Sobre o cidadão, como se de papel,
Estaca no chão, preso,
Não voa com o vento morto.

Cidadão, folha branca, não em branco,
Absorve tonalidades cinzentas
Que recobrem cantos, recantos da cidade.
Funde-se a muros, prédios. Paisagem.

Cidadão de papel no seu papel figurante.
Não em branco, mas como se fosse,
Rascunho a lápis de ideias alheias,
Cedendo nas mudanças de nuances.

Borrachas passam e borram.
Outros lápis e um texto novo.
Logo tudo se altera e a folha fraca,
Em suas fibras, se rompe.

Sem rompantes, gesto simples,
Descarta-se a folha gasta.
As mãos logo pegam outra.
Há tantas. Novas, dispostas, fortes.

Folha descartada, gasta, amassada,
Agora voa, pouco. Mais rola pela via.
Torna-se algo. Camaleão. Rua veste sua pele.
Perde-se na esquina. Mágica! Sumiu da vista.

O papel-cidadão não mais consta do inventário.
Chuvas-lágrima, ranger de dentes, despachos.
Passo em falso, passe, horários.
Na usura do escritor fez-se em pedaços.

E o vento levou, enfim, o pó.
Do pó ao pó. Retorno,
Movimento, constância.

A cidade pesa, como um peso.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Luz




Luzes surgem,
Desaparecem,
Despertam,
Distraem.

Fachos sem direção
Iluminam um canto
Na obscura mente
Dispersa.

Trôpega,
E bêbada,
Corre!
Louca...

A luz!
Que luz?
O carro!
O chão...

O corpo.
Um não.
Alma negada,
Entranhas, jornada.

Olhos
Sem mão
Que acuda.
Mórbida diversão.

Luz...
O túnel
A luz!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Fúria das horas




O Turbilhão gira,
   Ele é cíclico.
   Uma esperança contínua
   É a de que esse turbilhão
   Perca seu
   Caos enérgico
   No arrasto
   Do medo,
   No atrito
   Do vento,
   No morrer
   Do tempo.
   Porém, a bateria ou a corda
   Ressuscita a sua volta,
   Ritmando
   Angústias
   Monótonas.
Clic-clac
   Tic-tac
   Tic-tac
   Tic-tac

     Pow!


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Matéria inexistente




Tantas horas, dias.
Tanta luta, batalha.
Até não resistir
E entregar a bandeira.

Que o corpo se torne leve
Para o vento levar
Fora de tudo
Que aqui não há.

Leve para lá
Fora destes deuses.
Longe, longe do planeta.
Fora de ambições e neuras.

Que não me faça
Parte de nada,
Deixando-me rumar

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Implosão e explosão




Uma explosão.
Cem bombas nucleares.
As palavras entorpecem,
Inebriam a mente.

Rasgam! Por dentro
Um espírito em desespero,
Sufocado em sangue.

A alma fisgada
É dilacerada,
De forma irreparável,
De cima a baixo.

Um pensamento penetra.
Sem carinho. Sem amor.

Vingança!

Transborda o sangue quente,
Logo frio e demente.

A cabeça dói.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Os relógios (Clocks from passion)




Estou pregado,
Como Jesus na cruz.

Pregado de sono,
Nos ponteiros do relógio.

Sinto nos segundos passados
Que eles me partirão ao meio.

Dois de mim,
A mercê do tempo.


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Corvo santo




Os olhos correm
Em busca do que a mão
Deseja por não possuir,
Anseia por não ter.

A boca fica amarga
Pelos olhos ávidos,
Cegos da ganância.

Melhor que o corvo
Arranque-lhes de uma vez,
Esvazie essas orbitas
E preencha o coração.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Guerra fria (Intenções que não se vê)




Ser alvejado
E não
Manchar
Com o
Rubro
A camisa
Alva.

Fuzilar,
Sem por
O chão
Em
Ton
Sur
Ton.

Carregar
Num aperto
De mão
Mais
Armas
Que um
Porta aviões.

Inflamar
Pretensões
Incandescentes,
Invisíveis
Aos olhos crentes
Em boas

quinta-feira, 28 de março de 2013

Semântica




Tantos nomes gritados na rua,
Não correspondem ao que sou.
São tantos os nomes e total,
Para quem diz, sua exatidão.

Nomeiam e definem o sujeito.
Abarcam conceitos, coração,
Alma, sentimento, sentido
(ou não).

Belos ou feios, não importam.
Cada um em seu texto
Carrega um pouco
De irônica verdade.

Por não ser verdade.
Por ser questionável.
Por ser humano

quinta-feira, 21 de março de 2013

A impaciência coletiva




A manhã aparece no céu enquanto corro a ladeira.
“Vou perder o ônibus, não posso me atrasar”.

Dentro do coletivo
Observo os colegas de curta viagem.
Um animal indo ao abate teria mais alegria no olhar.

O ônibus esta lotado de muitos sentimentos entorpecidos,
Que pensam nunca chegar o momento de despertar.
Nessa fila de trânsito interminável, passageiros
Melancólicos e morbidamente pacíficos.

Enquanto isso, na rua, um bêbado com um gorro
Me lembra, às sete da manhã, que ai vem o natal.

Seria engraçado, não fosse triste a condição
Das quais não sei a pior.

Se a dele com seu sorriso,
Ou eu e a minha insatisfação.

As duas podem matar,
A minha só demora mais um pouco
E ele ainda sorri com o copo na mão.


quinta-feira, 14 de março de 2013

Queimando




Nova manhã desapontando.
O sol quente mostra-se no horizonte.

Olhos para o céu.
Espero que a luz cegue.
Braços ao alto.
Espero que sejam queimados.

Um corpo a disposição dos deuses
Para crepitar e ser o farol
De mais um dia pleno.

Para orientar a quem?

Espero ali queimarem
Todos os pecados
Que me corrompem.

Quero cremar vivo o corpo insone
E insolente, que me trai
Pelo meu livre arbítrio.

A luz cansa,
Fecho os olhos.
A mente se cala

Prefácio


Madrugada chuvosa em São Paulo, mas poderia ser qualquer lugar nesse mundo. É outono e faz frio. Sei do poder devastador dessa conjunção, pois abri minha janela e vi como é triste.

Olho no horizonte e penso nos fragmentos espalhados por aí. Os fragmentos formados pelo ímpeto de nossa sociedade. Eles tentam se abrigar, sendo lavados por estas águas que caem, mas também há, e não posso esquecer, os que estão abrigados, num cômodo conforto. Ainda outros fornecem tickets, notas e cupons fiscais, bebidas, porções, atenção, seus corpos.

São todos fragmentos, alguns conscientes de serem apenas pedaços, células com uma única função. Outros, perdidos, sem saber direito o seu pra que e para onde.
Outros tantos, ainda, sentem-se inteiros, como eu e você, com nossas casas, quartos, carros, computadores, celulares. Posses que nos dão a impressão de sermos órgãos, coração e cérebro talvez, de um grande corpo ou mesmo este.

Porém, nada disso, somos realmente apenas umas células, embebidas em pretensões de ser mais.

Olho no horizonte e lembro dos fragmentos.

A paz de espírito não é uma opção e a intenção destas linhas é que também se lembre e os perceba quando os verem. O mendigo, o menino no farol e a miséria que o precede, o cobrador, o gari, o catador de lixo, o lixeiro, a pessoa do pedágio, o caminhoneiro, a dona de casa, o idoso, o garçom, o médico, o professor, o que limpa, o que suja, os estressados e oprimidos no trânsito, você. Tanto faz ser homem ou mulher, os gêneros ou as religiões ou as condições, o status, o capital.

Na minha pretensão eu quero que você também sofra.


Nota sobre a seleção de poemas


A seleção obedece a uma ideia central para sua organização: trata-se de expressar a forma fragmentada com que se formam as relações na atual sociedade, não se restringindo aos grandes centros, porém mais expressiva nestes. Formas de fragmentação que vão do íntimo ao coletivo.

Fragmentos da imagem




Sumário





Lançamento do livro virtual "Fragmentos da imagem"


Depois de um tempo pensando, resolvi publicar por aqui (onde me é possível no momento) um pequeno projeto editorial de poemas que elaborei.

Denominei-o de "Fragmentos da imagem".

Farei publicações semanais dos poemas que escolhi para compor esse projeto. Por hora, postarei aqui o sumário, que atualizarei com o link dos poemas após cada postagem.

Aguardo avaliações, críticas, sugestões, convites...

terça-feira, 12 de março de 2013

Trans Paulo - Crônica

São Paulo não merece mais esse "são" em seu nome (há muito tempo): perdeu qualquer sanidade ou santidade pretensa.

Tensas se tornaram as relações entre habitantes ou passantes, aqueles que estão no olho do furacão ou que vivem nas bordas.

Trans Paulo, esse deveria ser o nome. A cidade do transito (não mais da garoa). Transito, que é senhor da vida e da morte, do tempo, das relações humanas.

Transformador elementar: a chuva que já significou vida, hoje trás angústia, letargia, morte, pois significa a visita deste senhor implacável, que cresce se alimentando mais e mais dos corpos, dos sentimentos e membros que leva.

Transita bons sentimentos em seus opostos, vantagens em nulidades. "Aqui tenho tudo" "Mas como faz pra chegar?" "Com esse transito, não chego."

E no fim o que realmente passa é a vida. Ela se vai, ela se perde, como todos que também perdem um outro pouco: uns a cabeça, outros o braço e muitos o direito a um abraço.

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