segunda-feira, 20 de junho de 2011

A revolução será online e usará máscara

Trechos da carta aberta endereçada à OTAN, postada pelo grupo anonymous, com tradução de UpdateOrDie e Link:
Saudações, amigos da OTAN. Nós somos a Anonymous.
Em uma recente publicação, vocês destacaram o Anonymous como ameaça ao 'governo e ao povo'. Vocês também alegaram que sigilo é 'um mal necessário' e que transparência nem sempre é o caminho certo a seguir.
O Anonymous gostaria de lembrá-los que o governo e o povo são, ao contrário do que dizem os supostos fundamentos da 'democracia', entidades distintas com objetivos e desejos conflitantes, às vezes. A posição do Anonymous é a de que, quando há um conflito de interesses entre o governo e as pessoas, é a vontade do povo que deve prevalecer.  A única ameaça que a transparência oferece aos governos é a ameaça da capacidade de os governos agirem de uma forma que as pessoas discordariam, sem ter que arcar com as consequências democráticas e a responsabilização por tal comportamento.
(…)
Quando um governo é eleito, ele se diz 'representante' da nação que governa. Isso significa, essencialmente, que as ações de um governo não são as ações das pessoas do governo, mas que são ações tomadas em nome de cada cidadão daquele país. É inaceitável uma situação em que as pessoas estão, em muitos casos, totalmente não cientes do que está sendo dito e feito em seu nome – por trás de portas fechadas.
(…)
Nós não desejamos ameaçar o jeito de viver de ninguém. Nós não desejamos ditar nada a ninguém. Nós não desejamos aterrorizar qualquer nação.
Nós apenas queremos tirar o poder investido e dá-lo de volta ao povo – que, em uma democracia, nunca deveria ter perdido isso, em primeiro lugar.
O governo faz a lei. Isso não dá a eles o direito de violá-las. Se o governo não estava fazendo nada clandestinamente ou ilegal, não haveria nada 'embaraçoso' sobre as revelações do WikiLeaks, nem deveria haver um escândalo vindo da HBGary. Os escândalos resultantes não foram um resultado das revelações do Anonymous ou  do WikiLeaks, eles foram um resultado do conteúdo dessas revelações. E a responsabilidade pelo conteúdo deve recair somente na porta dos políticos que, como qualquer entidade corrupta, ingenuamente acreditam que estão acima da lei e que não seriam pegos.
(…)
Vocês sabem que vocês não nos temem porque somos uma ameaça para a sociedade. Vocês nos temem porque nós somos uma ameaça à hierarquia estabelecida. O Anonymous vem provando nos últimos que uma hierarquia não é necessária para se atingir o progresso – talvez o que vocês realmente temam em nós seja a percepção de sua própria irrelevância em uma era em que a dependência em vocês foi superada. Seu verdadeiro terror não está em um coletivo de ativistas, mas no fato de que vocês e tudo aquilo que vocês defendem, pelas mudanças e pelo avanço da tecnologia, são, agora, necessidades excedentes.
Finalmente, não cometam o erro de desafiar o Anonymous. Não cometam o erro de acreditar que vocês podem cortar a cabeça de uma cobra decapitada. Se você corta uma cabeça da Hidra, dez outras cabeças irão crescer em seu lugar. Se você cortar um Anon, dez outros irão se juntar a nós  por pura raiva de vocês atropelarem que se coloca contra vocês.
Sua única chance de enfrentar o movimento que une todos nós é aceitá-lo. Esse não é mais o seu mundo. É nosso mundo – o mundo do povo.
Somos o Anonymous.
Somos uma legião.
Não perdoamos.
Não esquecemos.
Esperem por nós…

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Despertar político mantém jovens espanhóis acordados a noite toda


The New York Times
Maiores vítimas da recessão, com desemprego ou salários baixos, jovens espanhóis se voltam à política para lutar por melhorias
Conforme a luz desaparecia, um grupo de jovens manifestantes se sentou em círculo para debater se deveria apoiar um novo imposto sobre transações financeiras. Eles se reuniram quase todas as noites nesta semana, esperando transformar duas semanas de manifestações que tomaram as praças de todo o país e pegaram a classe política de surpresa, em algo mais duradouro – um conjunto de demandas.
"Precisamos de mudanças neste país", disse Ruth Martinez, membro do grupo que está desempregada há quase três anos.
Até recentemente, os jovens espanhóis de hoje eram tratados como uma geração apática, desinteressada na política partidária. Mas a ação dos jovens que tomaram as ruas desde o dia 15 de maio – a certa altura cerca de 28 mil manifestantes passaram a noite na Praça Puerta del Sol, em Madrid – mudou tudo isso, forçando o país a prestar atenção e reconsiderar.
A recessão que tem devastado a Espanha, juntamente com grande parte do sul da Europa, teve um impacto particularmente duro para os jovens, com taxas de desemprego subindo para mais de 40% para os jovens entre 20 e 24 anos de idade, cerca do dobro da média nacional e o mais elevado índice da União Europeia. Muitos deles veem a esperança de melhora limitada a menos que exista uma mudança nas cartas políticas e eles exijam uma nova abordagem para a criação de empregos.
"De repente as pessoas estão falando de política em todos os lugares", disse Maria Luz Moran, uma socióloga da Universidade Complutense de Madrid. "Você vai ao café ou está em pé no metrô e ouve conversas sobre política. Fazia anos que eu não ouvia alguém falar de política nas ruas".
Mesmo os jovens que têm empregos se veem muitas vezes presos em um sistema de baixos salários e contratos temporários. Os contratos foram concebidos para ajudá-los a entrar no mercado de trabalho, mas têm servido para colocar a vida adulta fora de seu alcance. Moran disse que uma pesquisa mostrou que aproximadamente 50% dos jovens adultos de 30 anos na Espanha ainda vivem com seus pais.
"Nós chamamos as pessoas de 32 a 35 anos jovens, na Espanha, porque eles são forçados a viver como crianças", disse. "As pessoas de 30 anos já deveriam ter suas próprias casas".
Poucos especialistas estão dispostos a dizer o que os manifestantes possam conseguir. Mas questões que eram discutidas apenas nas margens da sociedade estão sendo levadas mais a sério. Um jornal conservador de grande tiragem, o ABC, entrevistou especialistas constitucionais esta semana sobre o que seria necessário para mudar a legislação eleitoral, uma das principais reivindicações dos manifestantes, que dizem que o atual sistema favorece fortemente os dois principais partidos políticos do país.
"Eles já tiveram um impacto", disse Rafael Díaz-Salazar, outro sociólogo da Complutense, que acredita que os manifestantes podem representar cerca de 2 milhões de eleitores. "Eles estão forçando as pessoas a olhar para esta geração empobrecida. Eles terão de falar sobre os contratos de trabalho e habitação precários nas próximas eleições. Não podem mais evitar esses problemas".
Subemprego

Os especialistas dizem que há duas grandes categorias de desempregados e subempregados jovens na Espanha. Em um extremo do espectro estão os jovens relativamente ignorantes que abandonaram a escola na década passada, quando a economia do país crescia rapidamente e eles podiam facilmente encontrar trabalho na indústria da construção. Agora, esses postos de trabalho desapareceram e provavelmente não irão voltar.
No outro extremo estão trabalhadores que tenham um ou mais diplomas universitários que não conseguem encontrar trabalho, ou que são contratados por seis meses com salários baixos, muitas vezes em trabalhos braçais que não têm nada a ver com a sua formação.
Lidia Posada Garcia, 26 anos, é uma deles. Ela é ativa no DemocraciarealYA, um grupo que ajudou os manifestantes a se reunir através da internet. Advogada, ela é uma das poucas no seu círculo de amigos que têm emprego. Mas ela diz que recebe como se estivesse fazendo trabalho administrativo. "Nós todos vivemos na casa dos pais", disse ela. "Somos a geração mais bem preparada e qualificada. Mas não há muito para nós".
Um dos slogans dos protestos é "sem empregos, sem casas, sem pensão, sem medo".
Muitos dos manifestantes ficaram tão animados com a quantidade de pessoas nas ruas no dia 15 de maio que decidiram armar suas tendas e ficar. Até o dia 21 de maio, o dia antes das eleições regionais e locais, havia milhares de manifestantes morando nas praças de todo o país, ignorando os decretos governamentais que pediam que partissem.
Desde então, os números de pessoas que acampam todas as noites tem diminuído, apesar das "assembleias gerais" noturnas em Madrid ainda atraírem milhares de pessoas, incluindo turistas curiosos. A Praça Puerta del Sol tem tomado um aspecto de circo. Alguns dos manifestantes usam dreadlocks, mantém uma aparência desleixada e permanecem nas ruas sobre colchões.
Ainda assim, entre as barracas de plástico e tendas artesanais há todo o tipo de atividade, desde massagem até esforços obstinados para organizar, comunicar e chegar a uma lista de reivindicações. Nesta semana os manifestantes estão tentando chegar a um acordo nas assembleias sobre como e quando desmontar as barracas e partir, deixando nas praças apenas alguns representantes.
História

Historicamente, os espanhóis tomaram as ruas com alguma regularidade, como a maioria dos europeus. Mas os eventos são geralmente organizados por partidos políticos e sindicatos, organizações que os jovens têm ignorado. Muitos dos novos manifestantes dizem que estão revoltados com os sindicatos que fazem pouco para representar seus interesses e com os dois principais partidos da Espanha, que consideram corruptos e não representativos.
Os primeiros participantes dizem que os protestos floresceram através do Twitter e Facebook, desencadeados por vários eventos que atingiram as gerações mais jovens, incluindo revelações de documentos pelo site WikiLeaks que mostram que oficiais do governo não foram diretos em suas ações, e a oposição a uma recente lei antipirataria na internet que proibiu sites previamente autorizados que possibilitam o download gratuito de música e filmes.
"O Wikileaks e a lei antipirataria não foram as razões para a movimentação", disse Enrique Dans, um economista e blogueiro que frequenta a IE Business School em Madrid, que se envolveu em protestar contra a lei antipirataria e, em seguida, ajudou a mobilizar seus seguidores. "Mas eles foram a faísca inicial. Assim como o homem que colocou fogo em si mesmo na Tunísia não foi o motivo, mas o estopim para o que aconteceu depois."
Dans chegou à primeira manifestação tarde e ficou impressionado com o comparecimento. "Eu virei a esquina e pensei: 'Meu Deus, tem gente aqui'", disse ele. "Nunca houve um movimento popular como esse na Espanha".
*Por Suzanne Daley

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